VOZ DE "TORCENA"

Com o nosso Grupo a gozar um pequeno período de férias motivado pelas festas em Carregal, Vila Pouca e Vilar, de onde são vários elementos do nosso Rancho, e, depois de duas magníficas actuações em Vouzela e na Romaria de Trute (Monção), regressaremos aos palcos nas Termas de S. Pedro do Sul, no dia 29 de Agosto.

Vamos transcrever um texto publicado em A VOZ DE "TORCENA"

A CULTURA POPULAR PERDIDA NO SEIO DA SERRANIA

Vilar de S. Miguel do Mato um lugar com sessenta habitantes mostrou com muita dignidade, folclore à sua população, num ambiente rural, mas de sonho e tranquilidade.
O Rancho Folclórico de Vilar de S. Miguel do Mato concelho de Vouzela, está inserido num meio populacional que não possui mais de sessenta pessoas.
Uma terra bem pequena, perdida no meio das serras, junto à lendária estância de S. Pedro do Sul, mas onde se encontra a mais pura das tranquilidades e onde a poluição anda bastante distante.

Estradas estreitas, embutidas no denso do arvoredo, conduzem-nos àquele aprazível lugar e onde conhecemos gente de um excelente relacionamento, feliz por conseguir realizar naquele minúsculo lugar um festival de folclore que bem dignificou o que se realiza em locais com mais populosos.

Uma pequena ladeira conduz-nos da sede da colectividade, a Associação Cultural e Recreativa de Vilar, ao pequeno planalto onde se encontra a capela dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, templo que mais parece uma das habitações existentes no “Portugal dos Pequeninos” em Coimbra, mas bastante para receber os seus devotos e praticar ali a missa dominical e sempre que é solicitada.

Em redor da capelinha, vamos encontrar um ambiente mais que rural, bem ladeado pelas ondulantes montanhas repletas de arvoredo, e onde, surpreendentemente, os cães que guardam as pequenas quintas que rodeiam o templo, estranharam, pela pacatez habitual de outros dias, o barulho dos alti-falantes naquela tarde diferente marcada pela festa.

A colectividade, sustentáculo social de todos os seus habitantes, foi fundada em 1982 e até aos dias de hoje tem desenvolvido grandes esforços para engrandecer o folclore, que o saudoso Armando Costa tudo deu para dignificar o grupo, falecido há menos de seis meses quando pensava atingir o seu primeiro centenário de vida.

Foi uma perda muito lamentada apesar da sua avançada idade, porque se tratava de um homem bom que lutou sempre pelo desenvolvimento cultural da sua terra, levando o folclore, as tradições, os usos e costumes do seu povo de antanho para aquele lugar, na esperança de amanhã, tudo melhorar, e é essa ideia, que morreu com o grande carola, que todos os seus sucessores pretendem dar continuidade e assim trabalham nesse sentido, com muito fervor.

Naquela terra, só existe o bar da colectividade, pois o único café que existia, acabou por fechar, por falta de clientes e não ser rentável, mas mesmo assim, o bar do grupo, só funciona nos dias em que há ensaios e no período de verão, então raramente abre porque as pessoas saem para férias.

O grupo que faz em médias quinze actuações por ano, escolheu para levar este evento, simples mas de muito significado para o povo, o local do festival, com apurado sentido, pois situa-se na zona rural, onde o velho casario, casas térreas, bem marcadas pela agrura do tempo e o peso dos anos, quais armazéns agrícolas que ladeiam o fixo palco, envolvido em agradáveis sombras de árvores já antigas, concebido para aquela finalidade e outras iniciativas que se realizem na terra, obra custeada e construída pelo próprio povo. O grupo representa a Beira Alta, bem encostada à zona vinícola de Lafões e usa na sua maioria, trajes domingueiros e de trabalho, como os malhadores e homens do campo, mantendo uma tocata com diverso instrumental, com músicos e cantadores de boa qualidade.

Assim, aquela colectividade que vive essencialmente dos fracos apoios da sua autarquia, porque mais não é possível, mostra e bem aos seus congéneres que por vezes não é necessário grandes investimentos para se manter uma estrutura idêntica, funcional e bem representada e demais que a sua Junta de Freguesia, eleita democraticamente pelo povo, curiosamente não tem um único habitante, pois ao que nos foi garantido, S. Miguel do Mato tem zero habitantes, o que complica sempre os interesses de quem ali vive.

Gente afável, que sabe receber os seus convidados e foi na realidade o que aconteceu ao ter no seu convívio este ano os grupos convidados de Monção e “Macanitas” de Tercena, ficando a promessa de um dia lá voltarem, porque na realidade tudo decorreu com agrado, desde o almoço, à recepção, ficando assim em aberto uma nova visita quando os seus organizadores o entenderem.

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Actualizado em Sexta, 16 Julho 2010 10:49