FESTA EM HONRA DE S. MIGUEL ARCANJO NA IGREJA VELHA DE S. MIGUEL
DO MATO
No passado Domingo, dia 6 de Outubro, teve lugar, na Igreja
Velha de S. Miguel do Mato, a festa em honra de S. Miguel Arcanjo, orago da
nossa paróquia, com missa celebrada pelo nosso pároco, padre Francisco
Alexandre Domingos. Este “acontecimento” não passaria da banalidade se não
fossem as condições em que foi realizado. Com a construção da nova Igreja
Paroquial em Moçâmedes, já lá vão mais de 50 anos, a velha Igreja Paroquial de
S. Miguel do Mato foi deitada ao abandono. O passal foi vendido a uma família
de Vilar, o que de mais valioso havia na Igreja foi vendido a antiquários e o
que restou foi simplesmente roubado. Nem a pia baptismal, onde milhares de nossos antepassados foram baptizados, escapou
à voracidade dos ladrões. O edifício foi vandalizado, acabando por ser
incendiado, ficando só as paredes que, com o tempo, foram sendo cobertas por
era e silvas. O abandono foi tal, que até um pinheiro nasceu na torre, junto ao
local dos sinos, tendo, durante anos, crescido alguns metros e vindo a morrer,
talvez, por falta de água.
Já este ano, por iniciativa de uma família de Vilar, começou a
reconstrução da velha Igreja. Nesta altura, a cobertura e a limpeza das paredes
estão feitas, o que permitiu que a festa em honra do nosso orago aí tivesse lugar.
A propósito, vamos transcrever um texto, com algumas alterações,
que há alguns anos publicámos no Blog do Rancho Folclórico de Vilar de S. Miguel
do Mato, para melhor ficarmos a conhecer a história da velha Igreja e da formação da nossa paróquia e da nossa
freguesia. Não esquecer que, embora, a paróquia e a freguesia, geralmente,
tenham o mesmo espaço territorial, a paróquia tem administração religiosa e a
freguesia tem administração pública.
Este é um trabalho simples que gostaríamos que fosse enriquecido
com o contributo de alguns leitores que possa acrescentar algo mais de
interesse para a história da nossa freguesia.
CAPELA DO ESPIRITO SANTO
Segundo a lenda, onde Caria acaba e Vilar começa, ao lado da
Estrada Romana que ligava Viseu a Aveiro, também conhecida pela Estrada da
Sardinha, está a Capela do Espírito Santo. Esta capela, a mais antiga da
região, era o centro religioso de uma grande área territorial. Com o tempo e o
consequente aumento populacional, este território deu origem a três paróquias:
S. Miguel do Mato, S. Miguel de Queirã e S. Miguel de Bodiosa. Hoje, só o nome
de S. Miguel do Mato se mantém, contudo, as paróquias de Queirã e de Bodiosa continuam, também, a ter S. Miguel Arcanjo como orago. Durante muitos anos, as Ladainhas das três
freguesias convergiam para a Capela de Espírito Santo. Passada oralmente de
geração em geração, é possível que esta “lenda” tenha qualquer coisa de
verdade. Nas nossas pesquisas não
encontrámos muito sobre a Igreja Velha da freguesia. Diz-nos a lenda,
testemunho oral passado de geração em geração, que umas senhoras idosas de Vila
Pouca, por não terem herdeiros, doaram os terrenos de S. Miguel do Mato com a
condição de lá ser construído um local de culto. O Povo quase sempre tem razão.
Se a não tem toda, normalmente tem alguma. Por isso mesmo, acreditamos que haja
algo de verdade nesta história. A primeira referência escrita, que encontrámos,
consta das Inquirições de 1258, séc.XIII, e conta-nos uma história engraçada
que vou tentar resumir: perante os inquiridores, um jurado disse que o padroado
(direito de protector adquirido por quem fundava uma Igreja) da Igreja de S.
Miguel do Mato era dos cavaleiros fidalgos de Sirgueiros e dos paroquianos;
outro jurado, Martinho Pequeno de Lourosa, depôs que a Igreja está na herdade
do rei e que os homens de Lourosa, Moçâmedes e Vila Pouca, terras do rei,
sempre a “apresentaram”. O mesmo jurado denunciou aos inquiridores que o pároco
da Igreja, Padre João Peres, lhe havia recomendado, da parte do Cónego de
Viseu, Martins Anes, que não declarasse que a Igreja era do rei e que, ainda,
pediu a outros homens para mentirem. Por conseguinte, a Igreja pertencia ao
padroado real. Já no séc. XIX, e de acordo com a Estatística Paroquial de 1862,
“era abadia de apresentação do bispo e do padroado real”. A Igreja, como é natural,
sofreu várias obras de reparação e de ampliação que vieram a alterar a sua
traça original. Entre outras, chamamos a atenção para a que consta na escritura
de obrigação entre o reverendo Agostinho Nunes de Sousa Valente, cónego da Sé,
e o pedreiro Manuel Pereira de Sousa, natural de Orgens, datada de 6 de Outubro
de 1791. Nela, o referido pedreiro comprometia-se a compor a capela-mor da
Igreja pela quantia de oitenta e cinco mil réis.
Se observarmos bem o pouco que ainda resta da
velha Igreja, verificamos alguns sinais da construção primitiva. Na parte
exterior da que foi a zona do altar-mor existem vários cachorros muito
parecidos com os existentes na Igreja Matriz de Vouzela. Será que eles nos
querem dizer que a Igreja primitiva de S. Miguel do Mato é contemporânea da
jóia arquitectónica de Vouzela?! Nós somos da opinião que sim. Não a Igreja na
sua totalidade, mas a capela-mor. Assim, entendemos que existiria uma pequena
capela de arquitectura românica (sec. XII?) e, bastante mais tarde, para satisfazer
as necessidades religiosas da população que aumentara consideravelmente com o
programa de repovoamento existente na altura,
seria ampliada. É aqui que pensamos que entra a lenda da doação do
terreno pelas senhoras de Vila Pouca.
Aguardamos a
vossa colaboração.